Mitos alimentares resolvidos com respostas simples (Parte II)

Mitos alimentares

 

Os mitos alimentares continuam a prosperar no nosso dia-a-dia, sem que haja uma grande distinção entre os que de facto têm fundamento e os que não – muitos vão ganhando destaque como ditados e acabam por ser recitados como genuínos conselhos médicos. Não iremos discriminar entre falsos ou verdadeiros, mas vamos dissecar de forma simples a biologia de cada um. Espreite a Parte I para saber quais os mitos que ainda o podem andar a assombrar.

Mito alimentar N.6 – O ananás e as toranjas podem ajudar a perder peso porque dissolvem a gordura?

 

Veredicto – O ananás e as toranjas não emagrecem nem dissolvem gordura.

Em casos como estes, encorajamos as pessoas a montarem o seu próprio laboratório caseiro (atenção: não um laboratório de metanfetaminas!). Para isto só irão precisar de uma porção de gordura animal – banha ou toucinho servirão perfeitamente – e de misturá-la com qualquer uma destas frutas. O que é que acontece? Bem, nós poupamos-lhe o trabalho e a desarrumação. Nenhum destes frutos tem a capacidade de dissolver gordura animal. E se tivessem, provavelmente estaríamos melhor sem eles, uma vez que o nosso organismo possui estruturas lipídicas fundamentais que não devem ser dissolvidas. Os produtos que dissolvem gorduras são designados como solventes, e os solventes lipídicos mais comuns são a acetona, os detergentes e o etanol, e no entanto, ninguém pensa em ingeri-los para perder peso.

 

Mito alimentar N.7 – A cerveja causa “barriga de cerveja”?

 

Veredicto – Beber cerveja moderadamente não provoca “barriga de cerveja”.

A imagem do típico homem de meia-idade pachorrentamente sentado no café com a cerveja como companhia poderia ser suficiente para se considerar este mito como verdadeiro. Mas não nos vamos deixar iludir tão facilmente. A cerveja já anda connosco há alguns milénios, e a “barriga de cerveja” só tem alguns anos de idade. Vamos aos factos: uma garrafa de cerveja (330 ml) tem 150 kcal, e contém 13 gramas de açúcares e zero gramas de gorduras. Algo que nem é nada de extraordinário, já que um sumo de laranja tem mais calorias e muito mais açúcares. Mas então, a barriga de cerveja pode ou não ser provocada pela cerveja? Um estudo que envolveu 20 mil participantes verificou existir uma correlação positiva entre o consumo de cerveja e o aumento de peso nos homens, mas não em mulheres (eis uma boa noticia para o sexo feminino!). Pede-se calma aos apreciadores de cerveja. Não precisam de ficar alarmados, uma vez que este aumento de peso e da cintura só ocorreu em quem gosta mesmo muito de cerveja (consumindo mais do que um litro por dia), e especificamente 1.5 cm em 6 anos. Apesar da aparente relação entre a cerveja e a barriga de cerveja, os autores do artigo concluem que este mito alimentar não deve ser levado à letra, visto que os grupos que maior aumento de peso sofreram foram tanto os que mais consumem cerveja (mais do que um litro por dia) como os abstémios [1]. Se gostar, e for moderado, estará melhor entregue a beber uma cerveja do que um refrigerante açucarado.

 

Mito Alimentar N.8 – Beber água durante a refeição engorda?

 

Veredicto – Beber água não engorda, nunca, seja como for.

Vamos ser tão claros como a água. Água tem zero calorias, seja ela consumida durante a refeição, antes ou depois nem altera o valor calórico quando consumida com outra comida.

 

Mito Alimentar N.9 – A regra dos 5 segundos garante alguma coisa?

 

Veredicto – A regra dos 5 segundos não garante que a sua comida esteja livre de microorganismos.

O desgosto de deixar cair ao chão a última bolacha do pacote é algo que só pode ser compensado apanhando-a e comendo-a como se nada tivesse acontecido. Por outro lado, estamos na era da germofobia, em que já mais alguém pensaria em comer algo que caiu ao chão. Quem está certo, a gula ou medo de se ficar doente? Ao que parece o tempo de contacto de 5 segundo não garante menos microorganismos na sua bolacha já que a sua transferência é quase imediata. Mas o que realmente poderá ditar as reais consequências deste hábito é o tipo de microorganismos que são transferidos para a sua bolacha, se são patogénicos, e se estão presentes numa quantidade mínima para que possam ser realmente nocivos. Simplificando, se a a sua bolacha cair na caixa de areia do seu gato, por favor não a coma!

 

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