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Uma nova moda láctea assolou o continente Europeu e mais além: skyr. Invadidos fomos por este bravo viking de pacote, que embarcou e desaguou, inicialmente, no nosso supermercado Germânico favorito. Porque o Lidl não é só sobre roupa interior e ferramentas de bricolage verdes.
O skyr tem um nome fixe, escandinavo, e depois tem aquela coisa: é portátil, tem muita proteína, pouco açúcar e nenhuma gordura. Conclusão: perdeu tudo a cabeça. Se calhar há quem diga que comer skyr é como comer um bife de leite (ok, a imagem não é bonita). No entanto, uma coisa é facto, consumir alimentos ricos em proteínas (ou gordura) reduz o apetite, e se forem baixos em açúcar, então temos aqui um bom lanche ou pequeno-almoço. Já agora, o skyr não nos vai fritar o fígado, e outras coisas. Somos todos adultos responsáveis e não vamos (nem conseguimos) comer uma banheira cheia de skyr (por favor não o façam).
Iogurte ou queijo?
O skyr é feito (tradicionalmente) usando leite magro e uma cultura proveniente de skyr mais velho, que é deixado a fermentar até atingir o ponto certo. Na realidade, o skyr é para sempre mutável e não tem fim à vista, continua a evoluir devido à fermentação prolongada. Mas foquemos-nos apenas no skyr ‘moderno’ e empacotado. A sua consistência deve-se à remoção do soro lácteo que o deixa firme, e bem mais firme que um iogurte convencional. Mas o skyr é um queijo ou um iogurte? A dúvida subsiste, mas para todos os efeitos não há uma definição standard para o mesmo. O skyr não é objectivamente um iogurte, mas no fundo mais um queijo mole que pode ser comido à colher, apesar de ser fermentado com bactérias do iogurte, as obrigatórias Lactobacillus delbrueckii subsp. bulgaricus e Streptococcus thermophilus. O skyr precisa também de até quatro vezes mais leite para produzir do que um iogurte. O veredicto pode ser este: é um queijo esquisito que se parece mais ou menos com um iogurte. Assim sendo, a questão muda: aos olhos do público, é um iogurte ou um queijo? No fundo, depende: é tudo uma questão de marketing. E iogurte vende melhor.
E que tal foi?
A primeira vez que provámos skyr foi interessante. Foi coisa do momento, olhamos e ele estava lá, um solitário pacote de skyr natural, e pensamos: é desta. Mas não tínhamos colher. Deixa lá, leva na mesma. E assim foi. Deixamos à imaginação como é comer um iogurte (grande) sem colher, na rua. Não foi assim tão mau. Comemos tal e qual como um viking o comeria, enquanto remava o seu langskip.
Quanto à prova, (já tendo provado o afamado na versão natural mais algumas vezes) podemos dizer o seguinte: é muito azedo e algo ácido, tem uma consistência firme que recorda um queijo creme, e que pode até quase ser cremoso se ligeiramente batido. Em termos de consistência, podemos imaginar a seguinte escala: natas — iogurte grego — skyr — queijo creme — queijo fresco. Ao início entende-se a parecença com iogurte natural, mas depois a acidez e azedume natural dão a volta à questão para o colocar noutro patamar. Precisa, tal como os nórdicos dizem, de algo para o tornar mais palatável, como fruta, compotas, mel ou afins. Por outro lado, também o imaginamos a ser consumido com ingredientes como salmão ou bacalhau fumado, cebolinho, um fio de azeite, azeitonas, uma pitada de sal, etc., tal como o crème fraîche. Consta que na Islândia o skyr é consumido regado com natas ou leite, e alguma fruta.
O problema do skyr é que torna as pessoas mais vikings. Explicando: as afamadas tendências saqueadoras dos bravos nórdicos vêm-se reflectidas em portugueses que levam várias caixas de 20 unidades para a caixa de pagamento, com um ar triunfal mas levemente ameaçador. Tiram fotografias dos despojos e mandam para os amigos. Até à próxima moda.